A novela Lado a Lado,
ambientalizada no Rio de Janeiro início do século XX, traz o enredo (água morna
da sempre Globo) os encontros e
desencontros de dois casais. Concomitante a isto, como não poderia deixar de
ser, traz para complementar o enredo principal histórias paralelas da nossa
historia: escravidão (a vida no negro pós abolição), início da favelização no
Rio de Janeiro, chegada da luz elétrica questões sobre a capoeira, a cultura (do
teatro até o divórcio e situação da mulher na sociedade), a fotografia, a imprensa, a corrupção, a revolta da
chibata, anistia, etc.
Logicamente que cada contexto é
trabalhado de uma forma, e todas as formas coerentes com a proposta da
emissora. Mas os capítulos são
carregados desses temas adjuntos, que nos fazem lembrar ensaios filosóficos,
diálogos entre a razão e Deus, entre mestre
e discípulo, algo do gênero.
No capítulo do dia 11 de dezembro
de 2012 o tema anexo foi sobre a imprensa. A questão de implantar informações,
como publicar algo, e a imparcialidade. A quem assistiu e se interessa também por
filosofia, deve ter se lembrado imediatamente de um texto de Platão,
referenciado no título deste texto.
Transcrevo aqui o diálogo entre
os personagens de Edgar (Thiago Fragoso) e Bonifácio (Cássio Gabus Mendes), não
antes de contextualizar os dois
personagens: Edgar é filho de Bonifácio, um ex-senador da república que
declarou oposição ao governo. Perdeu as eleições or práticas de corrupção (pagou capoeiras para boicotar a vacina obrigatória contra
a varíola, dentre outras coisas). Edgar é um jovem e promissor advogado, que
vive em pé de guerra com o pai por causa
de política, o mesmo não apóia as práticas ilícitas do pai, principalmente
na política, declarando oposição ao pai publicamente ao apoiar um capoeira que
denunciou a corrupção de Bonifácio. Edgar estudou um tempo em Portugal, onde
escrevia matérias para um jornal e usava a alcunha de Antônio Vieira. E
para escrever sobre a revolta da Chibata
adotou o mesmo codinome que em Portugal, só que agora escreve para o jornal de
seu amigo Guerra, que é oposição declarada ao governo. A matéria em questão no
diálogo abaixo se refere a um golpe do governo ara acabar com a anistia dos
revoltosos da chibata e assim poder puni-los.
Diálogo:
BONIFÁCIO: Pelo visto você também
já leu o jornal, NE? Esse tal de Antônio Ferreira escreveu exatamente o que eu
falei com você ontem, mas que coincidência!
EDGAR: Coincidência? Coincidência
nenhuma, pai. Eu contei pro Guerra e ele encomendou o artigo ao Antônio
Ferreira.
BONIFÁCIO: Então tenho que te
agradecer por ter mandado o recado.
EDGAR: É óbvio que entendi seu
interesse no assunto, só que desta vez essas informações não eram só do seu
interesse, mas também de interesse público, sem contar que elas foram
devidamente checadas, claro.
BONIFÁCIO: Edgar, você não confia
no que diz seu próprio pai?
EDGAR: Não, não quando tem
interesse político, sem contar que a obrigação de um jornal sério é de checar
as informações para publicar, assim como ouvir todas as partes envolvidas.
BONIFÁCIO: O velho mito da
imparcialidade! Nenhum jornalista é imparcial, muito menos esse tal de Guerra
ai, ele bate no governo a torto e a direito, claramente: o oposicionista, assim
como eu e você. Aliás, nós estamos vivendo uma situação inédita: nós dois
concordamos com alguma coisa.
EDGAR: Não confunda as coisas,
pai. Nesse assunto específico nós estamos contra o governo. Mas o senhor sabe
muito bem: nós pensamos diferente.
BONIFÁCIO: Claro que sim, eu
espero que, para seu próprio bem, você aprenda a ser menos ingênuo, , ou você
irá se decepcionar muito na vida. De qualquer modo, obrigado, se não fosse você
essa matéria não teria saído. Agora eu espero que isso vire um escândalo e que
manche a imagem do governo.
EDGAR: agora quem está sendo
ingênuo é o senhor, pai. Tantos anos na política e não te ensinaram como as
coisas terminam: o tempo passa e as pessoas esquecem, infelizmente.
Quem quiser assistir à cena, pode
conferir neste link, é o terceiro vídeo, do dia correspondente (11/12/12), a
partir do 02:30 minutos. http://melhordasnovelas.blogspot.com.br/p/capitulos-de-lado-lado.html
Como verificamos a a alegoria,
digo cena, serviu para responder a alguns e explicar à sua maneira (da
emissora) as acusações recebidas. De uma forma sutil, sem atacar e lúdica para
muitos. E que até certo ponto tem um fundo de razão: a imprensa não foi, não é
e nem nunca será imparcial; as informação não brotam num jardim, mas de pessoas;
e no nosso país nenhum escândalo mancha nada e nem ninguém, as pessoas
esquecem.
Assim concluo enfatizando que o
que deve ser combatido não é a imprensa,
não é a parcialidade, mas o esquecimento das pessoas e a corrupção.
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