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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A alegoria da Globo


A novela Lado a Lado, ambientalizada no Rio de Janeiro início do século XX, traz o enredo (água morna da sempre Globo)  os encontros e desencontros de dois casais. Concomitante a isto, como não poderia deixar de ser, traz para complementar o enredo principal histórias paralelas da nossa historia: escravidão (a vida no negro pós abolição), início da favelização no Rio de Janeiro, chegada da luz elétrica questões sobre a capoeira, a cultura (do teatro até o divórcio e situação da mulher na sociedade), a fotografia,  a imprensa, a corrupção, a revolta da chibata, anistia, etc.

Logicamente que cada contexto é trabalhado de uma forma, e todas as formas coerentes com a proposta da emissora. Mas  os capítulos são carregados desses temas adjuntos, que nos fazem lembrar ensaios filosóficos, diálogos entre a razão e Deus,  entre mestre e discípulo, algo do gênero.

No capítulo do dia 11 de dezembro de 2012 o tema anexo foi sobre a imprensa. A questão de implantar informações, como publicar algo, e a imparcialidade. A quem assistiu e se interessa também por filosofia, deve ter se lembrado imediatamente de um texto de Platão, referenciado no título deste texto.

Transcrevo aqui o diálogo entre os personagens de Edgar (Thiago Fragoso) e Bonifácio (Cássio Gabus Mendes), não antes de  contextualizar os dois personagens: Edgar é filho de Bonifácio, um ex-senador da república que declarou oposição ao governo. Perdeu as eleições or práticas de corrupção (pagou  capoeiras para boicotar a vacina obrigatória contra a varíola, dentre outras coisas). Edgar é um jovem e promissor advogado, que vive em pé de guerra com o pai por causa  de política, o mesmo não apóia as práticas ilícitas do pai, principalmente na política, declarando oposição ao pai publicamente ao apoiar um capoeira que denunciou a corrupção de Bonifácio. Edgar estudou um tempo em Portugal, onde escrevia matérias para um jornal e usava a alcunha de Antônio Vieira. E para  escrever sobre a revolta da Chibata adotou o mesmo codinome que em Portugal, só que agora escreve para o jornal de seu amigo Guerra, que é oposição declarada ao governo. A matéria em questão no diálogo abaixo se refere a um golpe do governo ara acabar com a anistia dos revoltosos da chibata e assim poder puni-los.



Diálogo:

BONIFÁCIO: Pelo visto você também já leu o jornal, NE? Esse tal de Antônio Ferreira escreveu exatamente o que eu falei com você ontem, mas que coincidência!

EDGAR: Coincidência? Coincidência nenhuma, pai. Eu contei pro Guerra e ele encomendou o artigo ao Antônio Ferreira.

BONIFÁCIO: Então tenho que te agradecer por ter mandado o recado.

EDGAR: É óbvio que entendi seu interesse no assunto, só que desta vez essas informações não eram só do seu interesse, mas também de interesse público, sem contar que elas foram devidamente checadas, claro.

BONIFÁCIO: Edgar, você não confia no que diz seu próprio pai?

EDGAR: Não, não quando tem interesse político, sem contar que a obrigação de um jornal sério é de checar as informações para publicar, assim como ouvir todas as partes envolvidas.

BONIFÁCIO: O velho mito da imparcialidade! Nenhum jornalista é imparcial, muito menos esse tal de Guerra ai, ele bate no governo a torto e a direito, claramente: o oposicionista, assim como eu e você. Aliás, nós estamos vivendo uma situação inédita: nós dois concordamos com alguma coisa.

EDGAR: Não confunda as coisas, pai. Nesse assunto específico nós estamos contra o governo. Mas o senhor sabe muito bem: nós pensamos diferente.

BONIFÁCIO: Claro que sim, eu espero que, para seu próprio bem, você aprenda a ser menos ingênuo, , ou você irá se decepcionar muito na vida. De qualquer modo, obrigado, se não fosse você essa matéria não teria saído. Agora eu espero que isso vire um escândalo e que manche a imagem do governo.

EDGAR: agora quem está sendo ingênuo é o senhor, pai. Tantos anos na política e não te ensinaram como as coisas terminam: o tempo passa e as pessoas esquecem, infelizmente.



Quem quiser assistir à cena, pode conferir neste link, é o terceiro vídeo, do dia correspondente (11/12/12), a partir do 02:30 minutos. http://melhordasnovelas.blogspot.com.br/p/capitulos-de-lado-lado.html

Como verificamos a a alegoria, digo cena, serviu para responder a alguns e explicar à sua maneira (da emissora) as acusações recebidas. De uma forma sutil, sem atacar e lúdica para muitos. E que até certo ponto tem um fundo de razão: a imprensa não foi, não é e nem nunca será imparcial; as informação não brotam num jardim, mas de pessoas; e no nosso país nenhum escândalo mancha nada e nem ninguém, as pessoas esquecem.

Assim concluo enfatizando que o que deve ser combatido não é a imprensa,  não é a parcialidade, mas o esquecimento das pessoas e a corrupção.

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